Wednesday 1 October 2008

Um dia ainda me passo

Dizia o meu instrutor de condução que conduzir é um acto de irresponsabilidade.
Se se considerasse, a todo o tempo, as possibilidades, probabilidades e imponderabilidades do trânsito... nunca conduziríamos, nem chegaríamos perto de um carro.

Ainda assim, os condutores são despejados em catadupas para as nossas estradas, quais ovelhinhas no meio de lobos.

Defendia também o instrutor que, mais que revisão aos carros, deveriam ser os condutores a ter os seus conhecimentos inspeccionados, não em termos de saúde mas para limpar os vícios que a condução diária provoca. Por último, defendia o regresso em definitivo dos “ovos estrelados” e a passagem de carta provisória a definitiva mediante novo teste de condução, gratuito, baseado numa espécie de horas de voo, além de aulas de condução preventiva obrigatórias.

Lembro-me disso porquê?
Em primeiro lugar porque ele instruiu-me com aulas de condução preventiva, por iniciativa própria. Coisas como não há estradas com prioridade mas antes estradas sem prioridade, ou seja, não me importar com o que eu tenho direito mas antes com os direitos que me cedem e, acima de tudo, com os direitos que devo ceder e muitas, muitas doses de bom senso.

Em segundo lugar porque ontem, depois de um “toque” aparentemente inconsequente, o chamado “beijinho”, e enquanto ultrapassava o dito carro infractor (suposições minhas), devagar, devagarinho, após o devido sinal à esquerda e da devida autorização do carro ao meu lado para seguir, eis senão quando uma senhora salta, literalmente, para a frente do meu carro, gritando desesperadamente enquanto atravessa a… ponte 25 de Abril! Apenas o meu carro e um outro conseguiram passar. Atrás de mim ficaram todos parados porque a dita senhora ameaçava, aparentemente, atravessar-se outra vez. O pouco sangue frio que me restou serviu para me lembrar da regra de ouro do condutor-socorrista amador: não intervém, não pára, comunica com as emergências. Depreendi que o serviço de emergência já teria sido avisado porque os sinais da ponte começaram a ficar vermelhos e cruzei-me ainda antes do fim da ponte com um veículo da polícia. Esperei, andando devagarinho, que o meu coração me alcançasse, pois que tinha ficado lá atrás, gritando juntamente com a assustada senhora.

Numa rotunda mais à frente, quando já me recompunha, indagando internamente a razão da histeria da senhora quando um carro "normal" me ultrapassa pela direita, perigosamente perto, assinalando a marcha de emergência, buzina, quatro piscas! Seria ainda relativo àquele acidente?
Não contente o meu coração, ainda tivemos que nos deparar com um senhor de idade que muito feliz e contente circulava na “minha” rua de sentido único em contra mão. Tudo o que fez quando lhe disse que não podia circular naquele sentido foi um “desculpe”, sorriso e continuação da marcha incorrecta, porque afinal um sorriso e um desculpe arranja tudo… ou não?

1 comment:

Luísa A. said...

No trânsito citadino, querida Nocas, e no meio dos mil e um percalços com que nos prenda quase diariamente, diria que um sorriso e um desculpe não resolvem, mas ajudam muito a resolver. São tão raros, que bem merecem que se lhes dê algum valor. :-)