Thursday 11 September 2008

Há sete anos atrás

Estava a sentar-me para almoçar quando me chamam a atenção para um acidente que tinha acabado de ocorrer nos EUA. Um avião tinha chocado contra um prédio.

Fiquei ali parada, em pé, de prato na mão, a ver as imagens em directo na televisão.

- Mas como – lembro-me de perguntar – é que um avião comercial voa tão baixo?

Minutos mais tarde vi um ponto negro aparecer num dos lados do ecrã. Parecia ainda um outro avião. “Mas estes aviões passam tão rentes aos prédios” e na minha ingenuidade “ainda é sugado pela onda de calor”...

A tarde foi complicada. Telefones que disparam, a Bolsa tensa, as comunicações que se ouvem no meu rádio outrora escondido, agora promovido a Meio de Comunicação Oficial do Departamento.

Saímos todos tarde, apreensivos com o que se iria passar, estupefactos com o que se passou.

O resto é História.

- Já foi há sete anos! – disse o F. – meu Deus!

Se havia ainda algum resquício de inocência nestes verdejantes ossos, tenho para mim que foi completamente abalroada a 11 de Setembro de 2001.

Não posso dizer que me tenha tocado enquanto conhecida de alguém vítima, directa ou indirectamente, do ataque.
Não posso dizer que me tenha emocionado enquanto procurava, sem conseguir, contactar com alguém em NY.

Mas o Meu Mundo, Este Lado do Céu, esta Coisa a que chamo Vida… mudou.

Feito deliberadamente para ser aquilo que foi, para além das nuances políticas (nunca fui muito boa a “ver o quadro todo”), um espectáculo de horror em directo.

A CV, pequena, pediu-me muito simplesmente:

- Desliga a cassete, mãe. Não gosto desse filme.
- Nem eu, meu filho. Nem eu.

6 comments:

CPrice said...

são os tais que Wiesel tão bem caracterizou minha amiga.
Independentemente de tudo o que os faz respirar há algo que não possuem nem nunca virão a possuir: Humanidade.
A mesma que está hoje de luto, não pelos ideias defendidos atrás das secretárias e em gritarias radiofónicas .. de luto pelos inocentes que há sete anos acreditaram que viviam.

nocas verde said...

Nem mais, minha querida, nem mais.

Luísa A. said...

Faço minhas as sábias palavras da pequena CV, querida Nocas. Foi, como diz, um dia aflitivo, que nos deu a dimensão de uma realidade que julgávamos circunscrita ao medievalismo do Próximo Oriente, e a que, afinal, nem a mais evoluída e atraente civilização do século XXI consegue fechar a porta.

nocas verde said...

Cara Luísa... de repente ficámos tão estupidamente pequenos e tão grandemente estúpidos!

Paulo Cunha Porto said...

Querida Nocas,
também eu vi o segundo embate em directo, num ecrã que havia ao ar livre na Avenida da Liberdade (nome revelador), após ter sido alertado para o "acidente" do primeiro choque. Claro que a duplicação fez logo perceber a incomportabilidade do fortuito.
Beijinho

nocas verde said...

Caro Paulo,
Ver um filme "dAqieles" em directo e na Av. da LIBERDADE é daquelas coincidências ou ironias que a outra diz não existirem ...
Nunca, penso eu, o directo foi tão terrível...