Thursday 25 September 2008

15 anos


Os minutos passam devagar devagarinho no mostrador. Acordo, ou melhor, levanto-me por volta das 5.00 porque já não aguento os alfinetes que percorrem o meu corpo.

É a velha história da Gata Borralheira. Com variantes...

A madrasta não o era, em termos de parentesco. O princípe não o é, em termos monetários.

A 23 casámo-nos pelo Registo Civil, no Sábado seguinte casámo-nos perante Deus.

Seria uma cerimónia pequena, sem vestido, sem fatos, sem boda, sem festa. Apenas os pais, os noivos, o Pastor e os padrinhos.

Seria...

Fomos informando a comunidade pequena e simples de que nos iriamos casar a 25 de Setembro, explicando a cada um a situação: eram MUITO bem-vindos à Igreja, não haveria nada mais.

A comunidade onde eramos activamente voluntários era composta de muitos idosos, casais e viúvas a quem visitávamos, dávamos consolo e, principalmente, companhia.


Havia histórias difíceis, toxicodependência, filhos presos, casamentos destroçados, desemprego, jovens à procura de identidade numa terra tão perto de Lisboa mas, ainda assim, tão marcada (ainda) pela ruralidade.

A avó B. decidiu oferecer as flores para enfeitar a Igreja e compor o meu ramo.
A D. L. ofereceu o vestido antigo. Mudou-o, alterou-o para o tornar "apenas meu".


O avô C. ofereceu uma casita que tinha para lá de Mafra, caiada e enfeitada pelos avôs D., S. e T. com folhas de palmeira, ramos de alfazema e grandes folhas de que não conheço o nome.

Aqui e ali choveram, sem dar conta, ou pelo contrário, nós a darmos conta (!), ofertas disto e daquilo para que pudessem os "seus meninos" ter um casamento digno.

A filha da D. V, recuperada de um passado triste, ofereceu o serviço da loja onde trabalhava: fotografia!

O Senhor G., homem duro e um pouco irascível com a frágil mulher, dando abraços fortes de alegria e reconhecimento pela "pachorra em aturar as birras de um homem velho" oferece o fato (novo, novinho) ao F., além de contribuir para a comezaina com dois grandes e deliciosos leitões.

A avó A. oferece-me, por entre sorrisos cúmplices e um beijo tão terno, uma liga feita à mão, por ela, com uma libra de chocolate... "para ele comer... primeiro"!

Um pequeno almoço familiar trasnforma-se numa boda repleta.
Entrei na Igreja vendo para mais de 70 mães e outros tantos pais comovidos pelo casamento dos "seus meninos".


Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Outra diferença com a Gata Borralheira.

Não teve esta história um fim feliz.

Tem uma continuação feliz, dia a dia, ano a ano.


Há quinze anos!

Obrigada avós, avôs, Senhoras e Senhores que me fizeram tão feliz.
A ti, F., Amo-te e obrigada por ainda me aguentares!

8 comments:

CPrice said...

comovente esta tua transparência minha amiga .. aliás algo que te caracteriza, justiça feita :)

sê feliz .. continua a ser feliz.
Parabéns aos dois *
Beijo

nocas verde said...

Obrigada, amiga.
... transparente... hum... se calhar em demasia...
beijo grato :)

Unknown said...

O casamento não se prende com cadeias. São linhas, centenas de pequenas linhas, que vão cosendo as pessoas umas às outras ao longo dos anos. São elas, sim, que fazem durar um casamento.
Parabéns amiga, que venham muitos mais.

beijinhos para ti e para o F.

nocas verde said...

Querida Silvia,
True...
Aqui deste lado temos já um grande casacão que nos abraça a todos! (lol) mas daqueles fofinhos... que não arranham!
Obrigada
(e tu que o saibas, não é, que por esse lado te vais prendendo em linhas de amor e com amor!!!)
beijinho

Unknown said...

desculpa o texto é de, Simone Signoret,

Beijinhos

nocas verde said...

???
agradeço a honra de me dedicares essas linhas (as da Simone)


----

e as tuas também...
beijo
ps- nada a desculpar!!!!!

Luísa A. said...

Muitos parabéns, querida Nocas, com votos de que faça todas as bodas – de prata, de ouro, de diamante… - sempre muito feliz. :-)

nocas verde said...

Querida Luísa,
Agradeço os votos e os desejos.
beijinho :)