Monday 14 April 2008

Olhos Castanhos


A casa, ou melhor, o casarão, era enorme.


A partir do portão grande e belo virou à direita procurando a entrada de serviço. Viu um senhor com uma grande cesta de verduras enconstado a um gradeamento. Esperou que a criada viesse atender.


- Oh, Ti Manel! Como está?

- Dona Quinita, como está Vossemecê? Aqui estão as couves para a Senhora.


Continuaram a falar alegremente enquanto ela esperava meio escondida. De repente viram-na.

- Que queres tu daqui? - disse com voz rude o Ti Manel.

- Chega-te cá, miuda. - disse Dona Quinita.


Muito, muito a medo ela aprouximou-se. Sabia que estava suja e de roupa rasgada. Tinha fome e frio. Tentou sorrir, mas o sorriso não saía.


- Senhora, será que tem algum trabalho que uma mulher possa fazer? Vossa Mercê pode confiar em mim. Sou de confiança.


Dizia isto enquanto se aproximava de cabeça baixa.

- Afasta-te, malcheirosa! - vociferou Ti Manel - Oh, Dona Quinita, não confie nestas andrajosas! Vê-se logo o que querem. Roubar, é o que lhe digo! Roubar!


Olhou-o tentando esconder a amargura.

-Veja só, Dona Quinita... como me mata com o olhar!

- Cale-se, homem! Não vê que a garota está assustada? O que sabes fazer? Sabes cozinhar?

- ... não. Sou forte. Posso carregar o que quiser. Posso limpar os penicos (risos dos outros dois)... posso fazer o que quiser!


- É mesmo tonta esta! E tu lá achas que nesta casa se usa penicos? Achas que isto é a barraca de onde vens?

- Não, senhor! Achei que era o chiqueiro onde o senhor morava! - arrependeu-se. Baixou os olhos. Levou uma estalada do homem que a fez cair.

-Ti Manel, por Deus! - disse aflita D. Quinita.

Levantou-a e olharam-se. D. Quinita disse baixinho:

- Não digas mais nada. Afasta-te e espera este nhurro ir-se embora. - mais alto - Vai-te embora! Não tenho trabalho para ti!

Afastou-se. Depois de muita conversa Ti Manel afastou-se. Esperou que D. Quinita a procurasse com o olhar.

- Chega-te cá! Tens o lábio a deitar sangue.

Levou-a para os fundos da casa. Deu-lhe um pano molhado para limpar a ferida.

- Tens cá uma língua, tu!

Ela levantou os olhos.

- E também olhos malvados! - riu-se - ainda te dão desgostos esses olhos. - Queres trabalho? Posso deixar-te limpar o fogão e os penicos... Aqui chamam-se bordalosas... E um aviso. Fecha-me essa boca e baixa-me esses olhos. Como te chamas?

- Maria José.

2 comments:

Unknown said...

Olá Miga, vou esperar pelo resto da história...

É tão bom ler-te.

Beijos

nocas verde said...

Olá, linda!
É muita gentileza tua!
Cuidado com as expectativas!!!
Kiss