Monday 21 April 2008

Esclarecimentos e outras coisas!

Estive a pesquisar que fotografia colocaria para representar a minha odisseia de quinta-feira

Acabei por colocar aquela não porque não gostasse da série... quase não me lembro dela mas tenho a ideia de ser brilhante.

a razão de a colocar?

A parvoice do que fizemos por aqui... por razões já apontadas não especificarei muito mais, mas parece-me altamente ridículo a importação de coisas que, não sendo nossas, são, acima de tudo, muito americanas. O culto da família institucional, a falsidade dos actos, a imposição de ritos... como a casual friday!!! (não que o tenham imposto por aqui... ainda)

Trabalho é trabalho
conhaque é conhaque

Tento explicar melhor...

Trabalhei durante algum tempo como ajudante de cozinha num hospital... ai sim, sim! e Não me envergonho de tal. E tem lugar no meu CV.

Gostei? NÃO!
Era interessante? NÃO!
Era bem pago, pelo menos? NÃO!

Mas fui sempre assídua, pontual, interessada. Fiquei muitas vezes para além da hora porque era preciso. Não reclamei, nem muitas vezes as indiquei na folha de ponto.

O último turno tinha ordem para sair antes da hora, desde que tudo estivesse lavado e arrumado. Fiquei muitas vezes para além da hora simplesmente para ajudar a colega que assim sairia mais cedo.
Em dias de festividades no hospital era comum ficar MUITA loiça. Como não tinha filhos nessa altura, voluntariei-me muitas vezes para ficar no último turno, bem como para fazer a noite de Natal e de Ano Novo.
Nesse ano eu e F. passámos a noite de Natal a caminho de casa e a noite de Ano Novo no barco, também a caminho de casa. Não me importei.
Isto tudo para explicar que, para mim, gostar ou não do trabalho não é equivalente, consequente nem necessário para se fazer um trabalho profissional e interessado.

É evidente que quando trabalhei no emprego dos meus sonhos... como bailarina... o prazer retirado da minha actividade era MUITO maior. É claro que era! Os sacrifícios, as dores, a fome (!), os chefes, as vicissitudes? Suportavam-se. Visto agora, não custavam menos que aquilo dito ali em cima. A recompensa? Estava a cumprir o MEU sonho! Em cima do palco tudo desaparecia, garanto-vos. Em cima do palco eu era A pessoa mais feliz do mundo. Não me doía nada e fui não poucas vezes elogiada, não pela execução técnica (que nunca foi brilhante), mas pela minha serenidade e absoluta felicidade que demonstrei sempre. Levei sempre a minha personagem ao limite.

Alongo-me.
Estava já gravida da CN quando dancei pelas últimas vezes. A nossa directora técnica decidiu (e bem) que em vez de tentar esconder a barriga deveria assumi-la atando um lenço na redonda "coisa". Ficava bem giro. (suspiro) No fim de uma certa actuação o director do teatro veio agradecer-me de lágrimas nos olhos. Encurtando, achei engraçado as imensas histórias que ele retirou da minha dança e chamou-me a "bela embaraçada" (com sotaque galego...)

Tento terminar.
Insistir na mentira e "obrigar" o funcionário a mostrar a sua "felicidade", endeusar o "espírito corporativo" não leva a nada.
Serei sempre uma funcionária dedicada, ainda que já ninguém me chame "bela embaraçada" com o sotaque que for.
Mas o que me atrai mais no ridículo é, e regressando à escolha, como as fotos empresariais acabam por revelar aquilo que eu sinto. Sou funcionária, mas sinto-me empregada. Visto a camisola, dedico-me, esforço-me, empenho-me, mas sinto-me como "aquela do lado direito" que "limpa sanitas" com os patroinhos sentados em posse de reis.

Adeus. Vou ali limpar uma sanita.

2 comments:

O Réprobo said...

Querida Nocas Verde,
vejamos, se a experi�ncia de bailarina foi o sonho, a hospitalar-aliment�cia o pesadelo, esta � estar acordada, com a componente de mais valia em rela�o a uma e de ficar aqu�m relativamente � outra dessas experi�ncias.
Mas n�o Se deixe turbar pelo mimetismo. As modas passam. O que n�o quer dizer que Se deixe cativar por elas.
Beijinho
PS: com que ent�o a p�r len�os na cabecinha do Rebento, com tanta precocidade, heim?

nocas verde said...

Caro Réprobo,
Bem posto. Muito bem posto.
Gosto e acalenta-me pensar que, de facto, as modas passam mas a qualidade fica. Como dizia certa personagem, "os cães tartamundeiam e a caravana posidoniza" (ou algo parecido)...
Em relação à Cria aconteceu uma coisa extraordinária. Certa vez, semanas depois de "sair para este lado" fui à companhia assistir a um ensaio. O rebento estava a dormir o sono dos justos e quando tocou a música que EU dançava (agora dançada por outra, claro) o referido acordou e ficou de olhos esbugalhados, quieto... - reminiscências?
Obrigada pela visita e conforto
beijinho