... que os autocarros da Carris agora têm um pedaço próprio para as cadeiras de bebé? E olhem que me tinha dado um jeitaço em certas alturas da minha vida! (primeiro com um no canguru e outro na cadeira, depois com um na cadeira e o outro a reboque...)
Estou em pé e tento ler. Lá fora chove e o dia é feio, como feias são as pessoas que me empurram, colocam à frente com um "ah, desculpe, não vi que aí estava" quando lhes digo - porque digo - que me passaram à frente, os carros que apitam e povoam esta Lisboa (minha) tão linda, as imbecilidades que me obrigam a fazer e tudo mais. Mas pego no livro e tento ver o lado positivo. Saio das 4 paredes, estudo, leio ou jogo. Finjo que sou livre e que estou ali a fazer uma missão que salvará o mundo da crise, que aquilo que me disseram para fazer ninguém se não a Wonder woman poderia fazer.
Estou em pé e tento ler mas duas vozes atrás de mim interrompem-me a leitura. Reconheço, sem olhar, que são dois rapazes, jovens rapazes, e mesmo sem pretender intrometer-me a conversa chega até mim. Poupo-vos os detalhes. Fala um sobre um certo percalço por ele tido e de como se safou «bué bem», porque a mãe era muito importante (ele até disse a profissão mas eu não repito) e conseguiu «mexer nas cenas» e que o pai, pá é que ficou dois dias inteiros sem lhe falar mas que depois a cena passou e que o «outro», sem culpa nenhuma, nem o ressarcimento do que sofreu teve direito. Com a mesma ligeireza passam para a «miúda do outro», muito feia, ah mas é francesa, então está tudo dito e do que faziam todos ou alguns com uma certa fulana, «nem imaginas, pá!». Porque pertence à mesma família de assunto – só pode – saltam para o teste de hoje e outros assuntos banais… e PAU!
o que começa a dar na rádio do autocarro? (no meu tempo isso também não havia!) Aquela de que vos falei hoje. Sério! E fez tanto sentido.
Comecei a achar que já não seria tão prejudicial enfiar «tretas femininistas» na cabeça dos meus machos. Talvez consiga, talvez, criar duas excepções que vão continuar a enervar-se com aquelas generalizações que não me parecem tão descabidas agora.
Quando chegou a minha paragem olhei-os. Eram normais, nem feios, nem bonitos. Seriam de certeza, os meninos bonitos da mamã – tal como os meus são, teriam recebido beijos rechonchudos à noite. Cheguei àquela idade em que todos os machos com menos de vinte e cinco anos são miúdos e podiam ser meus filhos mas ainda assim tentei olhá-los com olhos de quinze anos – se Eu tivesse quinze anos, se fosse fútil, inconsequente, fraca e desejosa de agradar talvez tivesse gostado de um deles, ou dos dois, Talvez tivesse achado «giro» a aventura deste e à visão machista daquele. Não. Nunca fui.
Tinha um espelho lá em casa que me devolvia uma imagem muito pior que a realidade e eu, estúpida sim, não fútil, tentei e logrei esconder-me debaixo de roupas dois números acima, fiquei imune a estas investidas.
Pensei nisto tudo e a música tocava. Pensei nos machos que lá tenho em casa, no que me diziam e quase disse de modo audível enquanto descia os degraus (no meu tempo eram mais altos…)
… but you’re just a boy
6 comments:
Muito bonito, Nocas.
"... e PAU!" É homenagem ao meu PPTAO?... :)
Fique bem.
Acho que só realmente dialogam dessa maneira sobre relações humanas os que são «just boys or girls», de uma maneira ainda demasiado afirmativa e provocatoriamente desdenhosa da «maturidade» do sexo oposto. E os autocarros são, curiosamente, mundos em que a adolescência tem especial prazer em se expandir. É um descontrolo de conversas, de cenas íntimas, de gritarias em grupo... «Just girls and boys»!
P.S.: Ainda assim, Nocas, não me canso de recomendar à minha adolescente que aborde as relações humanas (e, já agora, os autocarros ) «in a fair and sensible way».
Caro João,
:)...
Querida Luísa,
Tem toda a razão evidentemente!
Just girls ou just boys. Assim se revelam as imaturidades escondidas... e que bem que faz na recomendação. Digo-lhe eu, como filha que fui, que não caiem em saco roto estas recomendações parentais!
bjs :)
As responsabilidades que as mães de meninos têm em relação à geração futura...
Penso nisso muitas vezes quando olho para o 'anjinho' de 3 anos que anda lá por causa a abaespinhar-se quando é injustiçado...
Mente Quase Perigosa, bem-vinda! É nossa responsabilidade (creio) tentar (tentar sempre) criar não just boys mas Homens.
Volte sempre e obrigada pelo comentário!
Post a Comment