Thursday, 29 January 2009

Sabiam que... (acaba por ser um tipo de update do texto de manhã)

... que os autocarros da Carris agora têm um pedaço próprio para as cadeiras de bebé? E olhem que me tinha dado um jeitaço em certas alturas da minha vida! (primeiro com um no canguru e outro na cadeira, depois com um na cadeira e o outro a reboque...)


Estou em pé e tento ler. Lá fora chove e o dia é feio, como feias são as pessoas que me empurram, colocam à frente com um "ah, desculpe, não vi que aí estava" quando lhes digo - porque digo - que me passaram à frente, os carros que apitam e povoam esta Lisboa (minha) tão linda, as imbecilidades que me obrigam a fazer e tudo mais. Mas pego no livro e tento ver o lado positivo. Saio das 4 paredes, estudo, leio ou jogo. Finjo que sou livre e que estou ali a fazer uma missão que salvará o mundo da crise, que aquilo que me disseram para fazer ninguém se não a Wonder woman poderia fazer.


Estou em pé e tento ler mas duas vozes atrás de mim interrompem-me a leitura. Reconheço, sem olhar, que são dois rapazes, jovens rapazes, e mesmo sem pretender intrometer-me a conversa chega até mim. Poupo-vos os detalhes. Fala um sobre um certo percalço por ele tido e de como se safou «bué bem», porque a mãe era muito importante (ele até disse a profissão mas eu não repito) e conseguiu «mexer nas cenas» e que o pai, pá é que ficou dois dias inteiros sem lhe falar mas que depois a cena passou e que o «outro», sem culpa nenhuma, nem o ressarcimento do que sofreu teve direito. Com a mesma ligeireza passam para a «miúda do outro», muito feia, ah mas é francesa, então está tudo dito e do que faziam todos ou alguns com uma certa fulana, «nem imaginas, pá!». Porque pertence à mesma família de assunto – só pode – saltam para o teste de hoje e outros assuntos banais… e PAU!

o que começa a dar na rádio do autocarro? (no meu tempo isso também não havia!) Aquela de que vos falei hoje. Sério! E fez tanto sentido.
Comecei a achar que já não seria tão prejudicial enfiar «tretas femininistas» na cabeça dos meus machos. Talvez consiga, talvez, criar duas excepções que vão continuar a enervar-se com aquelas generalizações que não me parecem tão descabidas agora.

Quando chegou a minha paragem olhei-os. Eram normais, nem feios, nem bonitos. Seriam de certeza, os meninos bonitos da mamã – tal como os meus são, teriam recebido beijos rechonchudos à noite. Cheguei àquela idade em que todos os machos com menos de vinte e cinco anos são miúdos e podiam ser meus filhos mas ainda assim tentei olhá-los com olhos de quinze anos – se Eu tivesse quinze anos, se fosse fútil, inconsequente, fraca e desejosa de agradar talvez tivesse gostado de um deles, ou dos dois, Talvez tivesse achado «giro» a aventura deste e à visão machista daquele. Não. Nunca fui.

Tinha um espelho lá em casa que me devolvia uma imagem muito pior que a realidade e eu, estúpida sim, não fútil, tentei e logrei esconder-me debaixo de roupas dois números acima, fiquei imune a estas investidas.

Pensei nisto tudo e a música tocava. Pensei nos machos que lá tenho em casa, no que me diziam e quase disse de modo audível enquanto descia os degraus (no meu tempo eram mais altos…)

… but you’re just a boy

6 comments:

joãoeduardoseverino said...

Muito bonito, Nocas.

"... e PAU!" É homenagem ao meu PPTAO?... :)

Fique bem.

Luísa A. said...

Acho que só realmente dialogam dessa maneira sobre relações humanas os que são «just boys or girls», de uma maneira ainda demasiado afirmativa e provocatoriamente desdenhosa da «maturidade» do sexo oposto. E os autocarros são, curiosamente, mundos em que a adolescência tem especial prazer em se expandir. É um descontrolo de conversas, de cenas íntimas, de gritarias em grupo... «Just girls and boys»!
P.S.: Ainda assim, Nocas, não me canso de recomendar à minha adolescente que aborde as relações humanas (e, já agora, os autocarros ) «in a fair and sensible way».

nocas verde said...

Caro João,
:)...

nocas verde said...

Querida Luísa,
Tem toda a razão evidentemente!
Just girls ou just boys. Assim se revelam as imaturidades escondidas... e que bem que faz na recomendação. Digo-lhe eu, como filha que fui, que não caiem em saco roto estas recomendações parentais!
bjs :)

Mente Quase Perigosa said...

As responsabilidades que as mães de meninos têm em relação à geração futura...

Penso nisso muitas vezes quando olho para o 'anjinho' de 3 anos que anda lá por causa a abaespinhar-se quando é injustiçado...

nocas verde said...

Mente Quase Perigosa, bem-vinda! É nossa responsabilidade (creio) tentar (tentar sempre) criar não just boys mas Homens.
Volte sempre e obrigada pelo comentário!