Monday, 8 October 2007

I'm a Genius

Ciclo Preparatório, Outubro...
...pois claro que foi há muito, muito tempo... no tempo em que o ciclo existia...
Professor de Educação Visual - Vamos fazer um concurso de desenhos. Vão todos imaginar um postal de natal. O vencedor será enviado para ser o postal oficial da escola e receberá um prémio em dinheiro.
A turma toda ficou contente. Bem, não toda a turma. EU fiquei indiferente. EU nunca fui capaz de desenhar, nem para me salvar a vida.
(...)
No fim da aula aproximei-me do "setôr"
NV - Setôr, este trabalho é para nota?
O PEV olhou para mim por cima dos óculos. E fez a pergunta mais estúpida possível, só compreensível porque as aulas tinham começado há pouco tempo, ele NÃO me conhecia, NÃO conhecia os meus "talentos" e era um jovem aspirante a artista. Daqueles que acham que podem mudar o mundo.
PEV - Porquê, 27? - eramos todos tratados pelos números. Não me perguntem porquê.
NV - Bem... é... que eu... não sei desenhar lá "muito bem".
PEV - O quê? Isso não existe. Todos sabem desenhar...
(pensei: lá vem mais um para me fazer sofrer com experiências, desenha assim... faz isto... aquilo... suor... até se decidirem que DE FACTO, não sei desenhar)
NV - eu não... e se não contasse para nota... eu ía à minha vida. (ai disse, disse. Aqui a NV não tinha medo destas respostas - e bem lixada ficou durante a sua vida estudantil!)
PEV - Nem pensar! Vais ver que és capaz... (e à laia de desculpa) e se for muito mau fica na primeira fase!
NV - Mas se não contasse para nota... a sério... eu não fazia...
(entre linhas: eu era baixa, a mais baixa da turma, magra, franzina, óculos grossos... mas se me ouvissem a falar com os "setôres"...)
PEV - Como assim? Não queres?! Um concurso?
NV - Não me interessa nada. Mesmo nada. Só faço se me obrigar.
(O PEV, até aqui sentado e por isso, mais ou menos à minha altura, levantou-se para "dar o ar da sua altura")
PEV - Tens que fazer o postal!

Postal feito, horrível, penoso, envergonhada

A escola foi fazendo várias selecções e o meu foi passando as eliminatórias.

PEV - Viste! O teu postal é brilhante! É dos mais originais!
Não acreditei, claro. E tive até medo que me fossem gozar. Mas lá foi até os 10 finalistas!!!!

O pai também não acreditou.
NV - Tenho medo, pai! E se for tão feio, tão feio que eles queiram gozar comigo?
Pai - Isso de certeza não. (refletiu - o pai VIU o postal. Sabia o quão horripilante estava) Eu vou falar com o professor.

Esperei ansiosamente do lado de fora da sala dos professores enquanto pai e PEV falavam. Quando saiu os olhos do pai estavam vermelhos de tanto rir. O PEV estava de cabeça baixa murmurando... eu trato do assunto.

Pai - You're a Genius! Desenhas melhor do que sabes... ou isso... ou aqueles professores são um bando de parvos! (já vos disse que o pai não media as palavras quando falava à minha frente? É verdade. Quando muito dizia com ar ameaçador "Os adultos podem dizer coisas que as crianças não podem!" E é claro que os termos "politicamente correcto" e "conversas pedagógicas" ainda não tinham sido inventadas)
NV - ?????????
Pai - Eles acharam que tu desenhaste uma cafeteira numa imensidão de neve a fumegar... com estilo Picasso-no-quadro-os-relógios!

Epílogo
O meu postal era um pinguim (=cafeteira) numa imensidão de neve (=imensidão de neve!) com a aurora boreal no céu (a fumegar)... o estilo picasso era... mesmo a minha falta de jeito!

O melhor de tudo é que o meu postal (que estava, já agora, nos CINCO finalistas) foi retirado... sem explicação. E eu tive um 3 na disciplina... sem palestras e experiências...

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