Há quase 7 anos que uso o mesmo meio de transporte.
Paro no café da estação, bebo o meu café, fumo o meu cigarro e sigo. Ao longo destes (tantos) dias vamos encontrando caras que se vão tornando caras familiares. Acompanhamos com frequência a gravidez e a ausência da licença, a ida e volta de férias, as alterações no penteado, no corpo, na expressão diária. Com algumas vamos, pouco a pouco, metendo conversa. Tornamo-nos quase confidentes.
Sentamo-nos juntas e comentamos o tempo, fazemos crochet, lemos, falamos da vida.
É muito curioso como acabamos por falar mais com estas estranhas.
Hoje estava no grupo uma "recém-chegada". Senhora já entradota, pespineta no seu melhor, língua afiada e conselho amigo para quem quer (e para quem não quer).
Recebi uma chamada. Era ele. Falámos. Desliguei.
- O amor é lindo! - ouço a tal senhora. E como terá reparado na anilha - recém- casadinhos, ham?
Ainda estive alguns segundos sem perceber que era para mim. As outras riram. Corei. EU! corei. Não sou de rubores fáceis. Assim tão repentino só quando recebi aquela entrada a pés juntos "- És a Nocas Verde, não és?"
Adiante.
Corei.
- Não. Somos casados há 14 anos.
A senhora ficou sem palavras. E eu também.
A minha conversa banal com ele demonstrou o que às vezes não vemos. O que EU às vezes não vejo.
O amor ainda cá está. E parece tão vivo que é confundido com amor recente. É verdade que me zango - que nos zangamos, que fico amargurada, que questiono, penso, blogo, choro e rumino. Que me calo e ponho tudo cá dentro, que me sacrifico e sofro.
Mas assim, como quem-não-quer-a-coisa-sempre-querendo, a D. Pespineta viu-O.
O Amor que ainda existe... há (glup) 18 anos (se somarmos os anos de namoro)
Obrigada F por ainda me amares.
Obrigada a mim mesma por ainda te amar...
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