Thursday 5 July 2007

Todos os dias

Há quase 7 anos que uso o mesmo meio de transporte.

Paro no café da estação, bebo o meu café, fumo o meu cigarro e sigo. Ao longo destes (tantos) dias vamos encontrando caras que se vão tornando caras familiares. Acompanhamos com frequência a gravidez e a ausência da licença, a ida e volta de férias, as alterações no penteado, no corpo, na expressão diária. Com algumas vamos, pouco a pouco, metendo conversa. Tornamo-nos quase confidentes.

Sentamo-nos juntas e comentamos o tempo, fazemos crochet, lemos, falamos da vida.

É muito curioso como acabamos por falar mais com estas estranhas.

Hoje estava no grupo uma "recém-chegada". Senhora já entradota, pespineta no seu melhor, língua afiada e conselho amigo para quem quer (e para quem não quer).

Recebi uma chamada. Era ele. Falámos. Desliguei.

- O amor é lindo! - ouço a tal senhora. E como terá reparado na anilha - recém- casadinhos, ham?

Ainda estive alguns segundos sem perceber que era para mim. As outras riram. Corei. EU! corei. Não sou de rubores fáceis. Assim tão repentino só quando recebi aquela entrada a pés juntos "- És a Nocas Verde, não és?"

Adiante.

Corei.

- Não. Somos casados há 14 anos.

A senhora ficou sem palavras. E eu também.

A minha conversa banal com ele demonstrou o que às vezes não vemos. O que EU às vezes não vejo.

O amor ainda cá está. E parece tão vivo que é confundido com amor recente. É verdade que me zango - que nos zangamos, que fico amargurada, que questiono, penso, blogo, choro e rumino. Que me calo e ponho tudo cá dentro, que me sacrifico e sofro.

Mas assim, como quem-não-quer-a-coisa-sempre-querendo, a D. Pespineta viu-O.

O Amor que ainda existe... há (glup) 18 anos (se somarmos os anos de namoro)

Obrigada F por ainda me amares.
Obrigada a mim mesma por ainda te amar...

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