Era o dia do meu aniversário.
Ía fazer 9 anos.
Não me lembro das outras prendas.
O meu pai deu-me um embrulho quando fomos os dois buscar o bolo à Lua-deMel.
- Oh pai! Um livro!... - sempre fui siderada neles
- É. O livro mais importante da tua vida.
O ar misterioso daquelas palavras assustaram-me. Mas depois riu e emaranhou-me a mão no cabelo como só ele soube fazer.
- Vá, abre.
Era um livro sem título, com folhas de cartão (ou papel muito grosso, áspero e amarelo). A capa era castanha, simples, sem desenhos. Tinha duas fitas para fechar.
Olhei-o inquisidora
- É um diário.
E contou-me. Conheci a tua mãe com 12 anos. Achei-a linda. Quando cheguei a casa escrevi num caderno, por brincadeira a frase "Hoje conheci a mulher da minha vida". Nem sabia quem era.
Também "por brincadeira" guardou aquele caderno à parte e foi escrevendo os encontros furtuitos que ía provocando com a trovão (como lhe chamava) e rapidamente passou para outras coisas. Tornou-se um vício. As entradas começaram a conter desenhos, flores, poemas, e a trovão que aparecia de vez em quando, muito furtuita, sempre com medo de tudo. Os recados à avó eram feitos a correr e sem falar com ninguém como se fosse proscrita.
Mas o Janita lá ía forçando, reparando nos hábitos. E traquinas atirava um piropo, pagava um pirulito na leitaria para ela (e pedia ao Sr. Silvério para lhe dar, sem dizer de quem era)
E o caderno ía crescendo.
Com 9 anos comecei o meu.
No comments:
Post a Comment