Tuesday, 31 July 2007

Antigamente...

Era o dia do meu aniversário.
Ía fazer 9 anos.

Não me lembro das outras prendas.

O meu pai deu-me um embrulho quando fomos os dois buscar o bolo à Lua-deMel.

- Oh pai! Um livro!... - sempre fui siderada neles
- É. O livro mais importante da tua vida.

O ar misterioso daquelas palavras assustaram-me. Mas depois riu e emaranhou-me a mão no cabelo como só ele soube fazer.

- Vá, abre.

Era um livro sem título, com folhas de cartão (ou papel muito grosso, áspero e amarelo). A capa era castanha, simples, sem desenhos. Tinha duas fitas para fechar.

Olhei-o inquisidora

- É um diário.

E contou-me. Conheci a tua mãe com 12 anos. Achei-a linda. Quando cheguei a casa escrevi num caderno, por brincadeira a frase "Hoje conheci a mulher da minha vida". Nem sabia quem era.

Também "por brincadeira" guardou aquele caderno à parte e foi escrevendo os encontros furtuitos que ía provocando com a trovão (como lhe chamava) e rapidamente passou para outras coisas. Tornou-se um vício. As entradas começaram a conter desenhos, flores, poemas, e a trovão que aparecia de vez em quando, muito furtuita, sempre com medo de tudo. Os recados à avó eram feitos a correr e sem falar com ninguém como se fosse proscrita.

Mas o Janita lá ía forçando, reparando nos hábitos. E traquinas atirava um piropo, pagava um pirulito na leitaria para ela (e pedia ao Sr. Silvério para lhe dar, sem dizer de quem era)

E o caderno ía crescendo.

Com 9 anos comecei o meu.

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