Thursday, 3 September 2009

Falando no meu banco de jardim

Vemo-los todos os dias. Damos-lhes comida, vestimo-los, beijamo-los enquanto corrigimos.
São os nossos filhos.
Sentimos as suas dores, protegemo-los e tentamos prepará-los para tudo o que a vida pode fazer.
Às vezes, só às vezes, somos surpreendidos.
Onde estiveste este tempo todo?

Num agradabilíssimo jantar que tive há pouco tempo pediram-me que lhes explicasse porque os trato por Crias.
Já escrevi algures por aqui como me identifico com algumas mães do reino animal.
A razão menos romântica vem de um “vício” que ganhei quando nasceram: cheirá-los e pô-los perto da minha cara.

E as minhas Crias crescem. Sem tanta surpresa como escrevi lá em cima, mas, ainda assim, com saltos temporais.

Mostrou-me a minha CV um texto seu. Li-o achando que seria sobre os jogos ou filmes e os seus inúmeros follow ups (sim, porque as minhas Crias criam novos jogos, pensam em novas ideias para sequelas). Mas Aquele texto era diferente. De um modo juvenil descrevia-se, com um despudor que me assustou (?)… De um modo calmo, esperou a minha reacção. Nem sabia por onde começar. Se ficava espantada por me mostrar – boys don’t usually talk – se por dominar tão bem uma língua estrangeira – esqueci-me de mencionar que o texto estava escrito em inglês? – se por ter ideias assim, como as que li, tão seguras – sweet innocence?

Com a Vossa desculpa, não o reproduzirei. Mas tem a minha CV ideias sobre as grandes questões da vida, daquelas certezas nossas de adolescente. Até aqui nada de novo? São, na sua maioria, diferentes da “ideologia dominante” lá em casa.

Ficou, como disse, à espera da minha reacção.
- Sabes, CV, enquanto morares nesta casa vais ter que cumprir as regras de cá de casa. Mas não te obrigarei nunca a compartilhares as minhas ideias ou ideais.
- Eu sei – respondeu-me com um abraço – por isso é que te mostro.

Sempre achei que os ideais não são aprendidos por osmose. Não se é assim ou assado porque o pai ou a mãe é. Há, obrigatoriamente, uma altura em que as Crias saem, pensam pela própria cabeça, formulam raciocínios.

- Sei que não pensas assim como eu, mãe. Mas comecei a pensar… - e explica de um modo assustadoramente (?) lógico as dúvidas imensas que tem, as certezas que foi alcançando, a recolha de opiniões, “este diz isto, mas li aquele que dizia aquilo”, “concordo com o que o outro diz, nem tanto com o que aqueloutro diz”.

De que mensagem fiquei eu orgulhosa de estar(mos) a conseguir transmitir?
De pensar pela própria cabeça. Duvidar para ter a certeza. Informar para consubstanciar as opiniões.

- Não sou ovelha, mãe. Sou um ser humano. Com liberdade para pensar.

Um bom dia para todos,
vou ali limpar a baba…

6 comments:

drengo said...

limpe, com a certeza que terá de ir limpando muita mais - quando as crias nos fazem sentir isso, uma e outra vez, costumam ter o condão de se habituar a nos ir surpreendendo com motivos insuspeitos para que tenhamos sempre mais alguma para limpar.

e ainda bem (¨,)

p.s.:(uma ótima reentrada em serviço para si e os seus)

nocas verde said...

e eu, que mal consigo parar de falar deles...
tem razão, sire.

(serviço? só se for o deste aqui que o outro há muito que por cá ando... ainda assim, muito obrigada.
likewise)

Rita said...

É bom quando vemos que eles começam a pensar por eles e a ter as suas próprias ideias e gostos. Outro dia perguntei à mais velha se estava ansiosa para começar a escola e ela "Se eu disser que não ficas muito triste?"...
Jokas

nocas verde said...

Rita, lembro-me disso.
Engraçado como apesar da "liberdade" que lhes vamos dando pensam (e ainda bem) e tentam não nos magoar!
bj :)

Gi said...

Vai comprando babetes (fala a voz da experiência).

nocas verde said...

Gi... e não diminui com o passar de idade, pois não?