Tuesday 31 March 2009

Conto - recta final

A festa era ruidosa., como se quer de uma festa, certo?

Foi para a pista dançar e não se importou de o fazer sozinha. Gostava de estar sozinha. Mesmo ali, no meio de tanta gente, entre empurrões de movimentos maiores que o espaço permitia, mesmo ali com o barulho ensurdecedor ela sentiu-se sozinha.
E gostou.

A Clara chama-a para uma bebida.
Entre gritos consegue explicar que quer apenas uma coca-cola. Só uma coca-cola, sem mais nada.

Recorda que os tempos seguintes àquele dia não foram pacíficos. Muita tristeza, amargura, ódio e choro. Muito choro.
- Minha querida – dizia-lhe a mãe – chora o que quiseres, enquanto quiseres. Grita a raiva que tens dentro de ti enquanto precisares. Toma um chá. Esta erva acalma.
E lentamente afagava-lhe os cabelos enquanto sussurrava sons incompreensíveis, rogando às luzes que ajudassem a sua querida Doce a encontrar a paz.

A clara regressa com a coca-cola e sentam-se as duas rindo. Rindo como duas adolescentes quase mulheres merecem rir. Sem compromissos, sem amarguras.

Um rapaz aproxima-se e, com gestos, pergunta se pode sentar-se. A conversa é muito escassa e cheio de risos pelas repetições e pelas frases que tem que ser ditas ao ouvido.
Pensa que é giro e aceita o seu convite para dançar um “slow”.

Agarrados – dança bem, ele – sussurra-lhe que já a estava a observar, que era muito gira e pergunta-lhe o nome.
- Cândida. – olhar profundo pela proximidade e pela firmeza nas palavras que se seguiam, sempre, agora – mas só de nome.

2 comments:

Luísa A. said...

Delicioso, o esclarecimento final, Nocas. A pedir, do parceiro, uma reacção «leonina». Será? ;-D

nocas verde said...

Alguma coisa me diz que Este joga limpo...
Muito obrigada, Luísa
bj