imaginem que vão ver um espectáculo, um qualquer que não desporto e muito menos futebol, ok?
uma ópera, uma peça de teatro, um bailado, uma performance “andsoión”.
imaginem que pagam o vosso bilhete, que se sentam no vosso lugar sossegadinho e imaginem que não têm ninguém de chapéu ou peruca grande à vossa frente. é difícil, eu sei, mas imaginem ainda que ninguém tosse naquele interlúdio em que as luzem baixam e as cortinas começam a abrir.
o espectáculo começa e vêem, com pasmo, que a “coisa” não está a correr bem. Os actores esquecem-se das deixas, os cantores desafinam, os bailarinos caiem.
Imaginem que de repente o mist… digo, director, vem a palco e informa-vos das “vicissitudes”.
que não tiveram tempo suficiente para ensaiar, que algumas figuras essenciais estão lesion… digo, magoadas ou doentes; que o palco é torto, que o electricista é manco… o mais certo é zangarem-se ligeiramente, não?
mas então, imaginem que NÃO são como eu, que são pacientes e aceitam a oferta do director, recebem outro bilhete para outro espectáculo, num outro dia.
até aqui apanharam?
o grande dia chega
(o adjectivo
grande é irónico)
o espectáculo lá se desenrola na normalidade (bem acentuado o adjectivo
normal).
nem assim-assim nem brilhantismo, nem nenhuma falha de maior.
passa-se um bom bocado mas fica assim a faltar qualquer coisa… um pedido de desculpa ia bem, dizemos nós. ou então um bocadinho mais de entusiasmo, um bocadinho mais de entrega.
queremos mais, queremos mais, queremos mais, diria, se se tratasse de
outra coisa.
mas, digo eu que sou do contra, poderemos exigir mais? afinal eles fizeram o
possível, tentaram e cumpriram com o que estava no bilhete. não estaria impresso, com toda a certeza, que iríamos assistir ao fantástico espectáculo de qualquer-coisa. no bilhete não.
mas aquele sensação de amargo na boca, de uma entrega compensatória, de “sangue”, essa fica e permanece.
(...)
para quem ainda não percebeu parece que ontem Portugal ganhou à Bósnia e que, assim, continuou a caminhada gloriosa para o Mundial
(o adjectivo
gloriosa também é ironia… da pura e dura)
assim sendo fiquemo-nos por estas glórias que conseguimos (este pronome pessoal parece irónico, não parece? e parece muito bem, sim senhor!) porque o director do espectáculo, digo, o mister, é muito do bom… pelos menos a julgar pelas palavras que ilustres senhores fulanos disseram sobre esta vitória ter “calado as bocas dos detractores do xenhorprofesso”.
tudo bem visto, é evidente que eu – ferverosa amante de futebol – vou seguir e torcer por Portugal. Até porque a Selecção, por aquilo que valer para quem gosta de futebol é
maior e
melhor que o somatório dos vários fulanos que por lá passarem.
o arrepio na espinha quando “A Portuguesa” tocar vai existir.
só espero que não volte a acontecer um jogo destes enquanto decido quem matou quem, como e porquê (ah, pois é… teste de penal com “goooolo” ao fundo. simpático, não acham?)
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and now, for something completely different
BABALERT ele haverá coisa melhor que ver a nossa CV tocar uma linda e melodiosa peça, sentado num fantástico jardim, de olhos fechados para sentir a música?
melhor não
mas ver a nossa CN equipado com o novíssimo equipamento do clube, mostrar-me as costas com o número da camisola e nome impressos enquanto faz toques fantásticos na bola é perfeitamente equivalente…
pelo menos para mim, mãe babada de um estudioso da bola e um estudioso da música
sou boa parideira, disseram-me na maternidade (é evidente que não foi quem me disse isso que passou lá vinte e três horasde perna aberta , mas enfim).
mas sou melhor torcedora, fã, entusiasta
os vizinhos que se cuidem porque eu quero ouvir os meus filhos tocarem na guitarra e na bola todos os dias