Thursday 5 June 2008

As minhas Crias

... e ando sempre à volta delas, não é?

Chego a casa com elas já na Terra dos Sonhos. Custa-me horrores. Não lhes dei um beijo de boa noite. Não os aconcheguei eu mesma. Não os vi bocejar enquanto se aninhavam nos lençóis.

Valerá a pena?
Acredito que sim... ou então não me teria enfiado de cabeça nestes estudos.

De manhã, com as correrias costumeiras dou beijos e abraços e afagos mas não chegam. Não para mim. Ainda por cima nem sempre reina a paz absoluta nestes escassos minutos em que estamos juntos. Porque acredito que a compensação de não estar com elas mais tempo não passa por desculpabilizar e permitir tudo para simplesmente ser a "boazinha". Porque acredito que ainda assim, ou antes, por ser assim, devo manter as regras, o ensino, as "lições", as retóricas... a parte chata de ser mãe. E lá ando eu a corrigir, repreender, aconselhar. E enfio espadas imensas (daquelas dos mongóis, retorcidas, que rasgam ao entram e dilaceram ao sair) no pobre coração enorme de mãe porque lhes vejo olhinhos tristes. Reprimo a vontade de retirar tudo o que disse, de lhes dizer que esqueçam tudo e que se lembrem apenas que os amo.

Mas não julgueis que este postal é triste. Não é.

A mãe conta-me as conversas Netos / Avó. Daquelas sabedorias "avozescas".
- A mãe diz-me o mesmo. - dizem muitas vezes.
A avó ri-se. E conta-lhes. Que não fui filha fácil. Que fui travessa, respondona, teimosa, caprichosa. Que a Avó se zangava também comigo. Que me diza aquelas mesmas coisas.

- É por isso que a mãe hoje é assim. Forte.
E a Avó chora. Conta-me isto e choro também.
Porque lhe sinto, apesar de nunca mo dizer, que sente orgulho em mim. Que está do meu lado. Como eu estou do lado das minhas Crias.

Não é um postal triste, Acreditem.

Hoje experimentaram uma roupinha nova. E sorriram enquanto se olhavam ao espelho.
- Mãe - diz a CV - não gosto de calções.
- CV, experimenta pelo menos. Se não gostares eu troco.
(...)
- Mãe, tens razão. são muito confortáveis, afinal.

A Mãe liga-me.
- CN, disse-lhe, estás tão giro hoje. Fica-te muito bem esta roupa!
- Claro, Vó! Foi a mãe que comprou. A mãe sabe.

Apesar de ilusória esta "a mãe sabe", conforta o coração, e fá-lo lembrar-se de que apesar de ser difícil educar é o único caminho possível para os Homens que eu gostaria que fossem.

ps - vou agora actualizar código... humpf! mas de coração confortado.
Bom dia!

8 comments:

CPrice said...

comovente isto minha amiga .. e sem querer cair em frases feitas e opiniões generalistas quase que te poderia assegurar que com alma do tamanho que tens .. tudo vale a pena :)

E esses meninos que tarda nada serão homens sabem bem, muito bem, a mãe, que não se parece com as outras (risos), que têm!

Beijinho a todos*

nocas verde said...

Obrigada, amiga! :)
Respiro a pensar nisso (agora intervalado pela fome que vou passando) :) :)
beijinhos para aí também...

ana v. said...

Que ternura, Nocas. Dão muuuuuito trabalho, mas vale a pena. Eu acho.
Beijinho

O Réprobo said...

Querida Nocas Verde,
esse "A Mãe sabe" é a Justiça. Nada que se encontre no Direito.
Beijinho

nocas verde said...

Querida Ana V. ... e acha muito bem! Acho eu deste lado.
Obrigada e beijinho

nocas verde said...

Caro Rép.,
Não se encontra no Direito, de facto...
Justiça?
Ambos sabemos que A mãe NÃO sabe sempre. Porque a mãe é meramente humana...
Obrigada...
Beijinho

PSB said...

Nocas Verde
Todos os Códigos e Direitos variados juntos, nunca pedirão meças a esse código irrefutável de conduta e de exemplo que serve de alicerce à educação das suas crias. Por muito que lhes custe, a elas e a si, estes tempos de convívio racionado, sabem reconhecer que o que faz por elas faz bem e faz por bem.
Não fique triste nem se arrependa: este é o caminho para se Educar. As suas crias agradecem.

nocas verde said...

PSB,
Obrigada pelo incentivo. Tem razão no que diz, claro.

Agradecimentos? Só vê-los Homens decentes e felizes. Será o melhor agradecimento.
"Nos entretantos" vai-se sofrendo dia a dia. Arrependendo, continuando, duvidando... mas faz parte do processo.
beijinho